Teologia Preguiçosa
Gosto da palavra reflexão, que vem do verbo refletir, refletir no sentido de pensar, de dar a devida atenção e de gastar tempo com um determinado tema. Analisar com prudência, comentar com propriedade, tecer observações significativas. Existe uma frase atribuída a Albert Einstein que diz “Não é que eu seja muito inteligente, é que eu permaneço com os meus problemas por mais tempo”, Einstein investia tempo refletindo nos problemas que se lhe apresentavam. Refletir é uma tarefa árdua, que consome energia, que cansa! É o ato de olhar para as demandas que nos cercam, formular soluções, testar argumentos, não nos convencermos, não nos contentarmos, começarmos de novo, e de novo, e novamente. Não é o caminho mais rápido, nem o caminho mais curto e também não é a atividade preferida dos preguiçosos, muito pelo contrário, é um traço do preguiçoso querer passar o menor tempo possível diante de um problema, se esquivar dele ou ainda buscar sempre as alternativas mais fáceis. Agora, o que a teologia tem a ver com tudo isso? Com o ato de refletir, de pensar, e de ser propositiva?
O pensar teológico se apresenta como uma área do conhecimento extremamente relevante e pertinente para o período que temos vivido. Nunca tive tanto orgulho de ter optado pela formação teológica como no momento atual. Todos que seguem por essa jornada podem hoje, nesse exato momento, se aprofundar em questionamentos que são extremamente caros para nossa e para as próximas gerações, apenas para citar alguns desses temas quero mencionar, o ritmo acelerado da sociedade, o avanço sem precedentes da tecnologia com sua inteligência artificial, o aprofundamento das desigualdades sociais, o enfrentamento da discriminação e do racismo em todos os seus níveis, o aumento significativo das doenças mentais, o envelhecimento da população, as inúmeras questões relacionadas a sexualidade, as pandemias – a atual e as próximas que existirão… Isso apenas para mencionar alguns cenários que estão muito próximas de nós. Estou me referindo assim, ao movimento consciente de trazer a teologia para dialogar com os problemas de hoje, com as demandas atuais, do contrário estaremos sempre privilegiando temas também importantes, mas que estão desconectados com as questões essenciais do nosso tempo.
Não precisamos ter a reposta final para nenhum desses assuntos, nem temos essa pretensão, mas, podemos sim abordar essas questões tão sensíveis e expressivas. E podemos fazer essa abordagem de muitas maneiras, mas eu quero chamar a atenção para apenas três delas. Uma primeira forma de abordagem é desqualificar esses questionamentos, dizendo que eles não têm importância, ou mesmo que quem os faz não é digno de atenção, aqui no meu ponto de vista habita uma face do que eu tenho chamado de teologia preguiçosa, aquela que se esquiva de suas demandas, que evita e que passa ao largo – contudo lembre-se, os problemas não desaparecem sozinhos. Um segundo modo de encarar é propondo soluções simplistas para problemas complexos, desmerecendo assim a grandeza que essa matéria tem para o outro, e aqui temos a outra face da mesma teologia preguiçosa, aquela que opta pela superficialidade e que não se aprofunda, aquela que não se importa o suficiente. Agora, temos também como terceira via a oportunidade de lidar com esses temas com a devida atenção, construindo pontes de diálogo ao invés de muros de separação, compreendendo a dor do outro, lidando com o contraditório de forma respeitosa, refletindo, pensando, argumentando, passando tempo com tais questionamentos, sendo propositivos e assim apontarmos para os valores do Reino, os valores do Cristo, os valores da vida. Isso dá trabalho, cansa e consome tempo, os preguiçosos com certeza não escolherão esse caminho. Sendo assim escolha bem de que forma irá conduzir a teologia você que tem aprendido e praticado.
Rodrigo
Fevereiro/2021