Quando o coração não arde mais

O perigo é quando o coração não arde mais, quando o sonho se arrefeceu, quando os ideais se esgotaram, quando o ânimo escorre entre os dedos. Admiro quem contorna adversidade, quem cria novas formas de pensar, quem permanece encontrando o combustível para continuar caminhando em direção ao “horizonte não alcançado”. Penso que aqui reside um mistério: “o não alcançado” – os sonhos constroem essa maquete do que ainda não temos, do que ainda não somos, daquilo que almejamos, daquilo que por hora é apenas um suspiro, mas que ainda não encontrou sua conclusão.

Já há alguns meses tenho me deparado semanalmente com a frase “Sonhos antecipam conquistas”. Percebo que são inúmeras as situações que tentam roubar, minar ou demolir a capacidade de sonhar. São dificuldades diversas, algumas mais superficiais outras mais profundas, que ofuscam daquele “horizonte não alcançado”. Mas há uma força imensurável cada vez que o ser-humano se coloca de pé e ergue sua cabeça. Há uma forma imensurável quando um ser humano começa a caminhar – isso mesmo, alguém já disse “um passo, e você já não está no mesmo lugar”.

O caminho vai se apresentando enquanto se caminha, enquanto se anda. Quem viveu na mesma época que a minha já deve ter escutado que “um homem na estrada recomeça sua vida”. Sabe aquelas pessoas que eu disse admirar pela capacidade de continuarem sonhando? Ao pensar nelas e trazer o rosto delas a minha mente reparo que são pessoas que não pararam de caminhar, em alguns momentos reduziram bem o ritmo, respeitando os limites, mas nunca pararam de se movimentar. Recentemente estou fascinado pela história de um senhor, um japonês de 80 anos, que está iniciando um empreendimento com grãos especiais de café, esse é apenas um exemplo, de tantos outros que me inspiram e me fazem sonhar e dizer “eu quero envelhecer assim”.

Rodrigo
Abril/2021