Comentário sobre o Livro de House – Teologia do Antigo Testamento
“House escreve sobre as barreiras que dificultam a construção de uma teologia do AT. Por conta disso, a Critica Bíblica Moderna contribuiu para esclarecer, ou talvez não, todos os impasses que os textos apresentam ao mesmo tempo Deus, bondoso e amoroso, mas justo, ao ponto de destruir os ímpios, por exemplo, o que aconteceu com o dilúvio.”
Desde os pais da igreja até a reforma protestante, tudo o que se sabia sobre Deus e os seus tratados estavam organizados em temas. Portanto quando se fala de Teologia neste período está se falando de uma Teologia Sistemática; Teologia Sistemática é um estudo organizado em temas de tudo aquilo que se diz a respeito de Deus, neste período a Teologia explicou alguns conceitos a luz da filosofia grega, como por exemplo, Thomás de Aquino e as 5 provas da existência de Deus (escolástica).
Foi a partir da reforma protestante que se falou a respeito de uma Teologia do Antigo Testamento, Lutero usou o método de interpretação da Bíblia solo scriptura, o que quer dizer que a Bíblia se explica nela mesma, e, somente 100 anos depois é que surge de fato uma Teologia do Antigo Testamento através de Gabler. Gabler desenvolve uma Teologia do Antigo Testamento como suporte para a formação de uma Teologia Sistemática, ou seja, a Teologia do Antigo Testamento ainda estava, em certo sentido, a serviço da Sistemática, mas j’a buscando para si uma independência. O discípulo de Gabler, Bauer, faz a separação das duas teologias, ele diz que uma é Teologia Sistemática e outra a do Antigo Testamento, a metodologia adotada foi da critica Bíblica moderna.
A critica Bíblica moderna tem seu lado positivo e seu lado negativo, o aspecto positivo da critica bíblica moderna, é o trabalho de investigação a respeito do contexto em que os fatos aconteceram, analisa também exaustivamente os estilos literários e o contexto cultural de cada autor, o aspecto negativo é a dúvida quanto à autoria dos livros, segundo a critica bíblica moderna Moisés não foi quem escreveu o Pentateuco, segundo ela é mais confortável afirmar que existiram escolas de escribas, conhecidas com os seguintes nomes, Javistas, Elohista, Deuteronomista e Sacerdotal. Além disso, coloca em dúvida se alguns fatos, de fato ocorreram, como por exemplo, segundo a critica bíblica moderna todos os relatos que evidenciam o sobrenatural de Deus ou milagres são vistos como mitos comuns na antiga mesopotâmia.
“Tudo quanto não se podia explicar, como por exemplo, os milagres; e os eventos que uma mente racionalista não podia compreender, como a interferência divina na história do povo eleito, eram considerados por eles como mitológico ou lendário, ou como símbolos literários que representavam uma realidade política ou histórica”
Estudiosos analisaram estes acontecimentos sobrenaturais a luz de uma visão mitológica, depois de 200 anos de construção de Teologia do Antigo Testamento Wellhausen faz uma síntese geral do que foi escrito neste período. O resultado de todo este processo, foi uma Teologia do Antigo Testamento, com natureza mais histórica que dogmática, a Teologia do Antigo Testamento ficou sendo uma Teologia da História, afirmar isto trás algumas implicações, por exemplo, a Teologia do Antigo Testamento não pode estar relacionada ao Novo Testamento, outra implicação seria o fato dela se limitar apenas a história de Israel, não tendo nenhum caráter normativo, isso é algo sério, estamos dizendo que o Antigo Testamento não teria nenhum valor a não ser histórico, não poderíamos aplicá-lo a vida da igreja.
Foi a partir de Eichrodt que se olha a Teologia do Antigo Testamento sob um ponto de vista temático, ele mesmo sugere que haja um corte transversal, entre a história e a teologia e que sirva também de ponte entre uma e outra. Kaiser começa a estudar o Antigo Testamento a partir de um tema: “As promessas de Deus”. House diz que estudar o Antigo Testamento a partir de tema limita a Teologia, porque a Teologia do Antigo Testamento é o agir de Deus na história, por isso ele adota um estudo que compreende todo o Canon das escrituras judaicas, o método Canônico, e se fundamenta no texto massorético. House vai se utilizar do método de interpretação da Bíblia chamado conservador (solo scriptura: a Bíblia se explica por rela mesma).
Algumas barreiras para construção de uma teologia do AT foram encontradas, tais como:
- O pensamento teológico tinha muito de história, nos 200 anos a Teologia do Antigo Testamento nada mais foi do que um punhado de relatos da própria história, e, se digo que é apenas de caráter histórico não tem nenhuma aplicabilidade a igreja, não tem nenhum caráter normativo, logo invalida-se o esforço no seu estudo;
- Existiam teólogos individuais com posições filosóficas e eclesiológicas, já o propósito da teologia bíblica era expor em que os escritores bíblicos realmente criam, ao contrário da dogmática que era perpetuar um ponto de vista pré-estabelecido (daí surgiam grandes conflitos);
- A teologia estava impregnada de um racionalismo de um espírito muito crítico, começa-se então a falar de uma teologia bíblica de caráter cristão, ou seja, tem uma aplicabilidade a igreja, mesmo assim não se divorciou da história, assim não conseguimos definir quando falamos de uma reflexão histórica ou quando de uma reflexão teológica;
- No entendimento de Kaiser a religião do Antigo Testamento não passa de uma religião no meio de muitas. Com todo seu racionalismo até então os escritores haviam, pelo menos, da boca para fora, aceitado a doutrina da finalidade da religião cristã, com Kaiser o fingimento desaparece, para ele a idéia de revelação especial pareceu irracional e perversa. Ele vê o estudo da Teologia do Antigo Testamento como essencialmente uma história da religião e não como uma história da revelação divina;
Como se não bastasse todas essas barreiras que dificultaram a construção de uma Teologia do Antigo Testamento, também existem algumas barreiras para sua aplicação, tais como:
- Barreiras históricas:
- Não é preciso ser especialista em história antiga para ler o Antigo Testamento com discernimento, mas algum contexto histórico é necessário. Tal conhecimento é especialmente importante mesmo que a única razão fosse a de os livros do Antigo Testamento não estarem em ordem cronológica. Infelizmente pouquíssimos leitores são versados nas questões do pano de fundo histórico.
- Barreira literária:
- A maioria dos leitores consegue compreender com facilidade livros narrativos, porém os demais livros proféticos, poéticos e próto-apocalipticos são de difícil compreensão.
- Barreiras teológicas:
- Como alguém concilia o amor e a ira de Deus? Como Deus salvava na era anterior a Jesus? O que o Antigo Testamento tem a dizer para os leitores dos dias atuais? Como o Antigo Testamento se relaciona com o Novo Testamento? O Antigo Testamento é relevante para adoração contemporânea? Estas e outras questões teológicas levam os leitores a parar, refletir e buscar respostas difíceis.
- Barreira da falta de familiaridade com o AT:
- Em geral é um obstáculo para muitos leitores. Se houve alguma época quando o conteúdo e as ênfases do Antigo Testamento eram bem conhecidos então esta época já passou, um grande número, se não a maioria dos universitários e seminaristas jamais leu o Antigo Testamento inteiro.
- Barreira acadêmica:
- Especialistas em Antigo Testamento não estão de acordo sobre como abordar a história, o conteúdo e a teologia do Antigo Testamento a diversidade de opiniões pode confundir bastante
Bibliografia:
- HOUSE, R. PAUL – TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO;
- HOFF, PAUL – O PENTATEUCO;
- PINTO, SOUZA JOSÉ – APOSTILA: UMA TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO.
- RESUMO DA MATÉRIA PASSADO EM SALA DE AULA;
- ANOTAÇÕES FEITAS EM SALA DE AULA NO DECORRER DO CURSO.