A Vida é Castelo de Areia

Eu sempre gostei de fazer castelos de areia na praia, sim, aqueles castelos desajeitados que vão crescendo um pouco sem rumo e por fim acabam caindo. Gosto de colocar a mão na areia, de cavar até chegar ao nível d’agua, gosto de sentir o cheiro do mar e gosto também de escutar som das ondas enquanto fico ali concentrado naquele castelo me abstendo das demais preocupações. Recentemente voltamos de um breve período no litoral, apenas uma semana, mas tive tempo suficiente para fazer alguns castelinhos de areia e dessa vez amadureci uma reflexão que já me habitava há algum tempo. É a percepção de que a vida, e as iniciativas da vida, carregam traços de um castelo de areia.

Talvez alguém já tenha pensado nisso, talvez alguém já tenha até escrito sobre isso, portanto não tenho a pretensão de apresentar algo novo, mas sim algo meu.

Penso que na vida algumas pessoas tem a oportunidade de chegar quando o castelo já está pronto, ou no mínimo quando já existe uma boa parte do castelo construído. Nesse caso elas saem na frente, não precisam se preocupar com a fundação do castelo, não precisam se preocupar com a sua estrutura, as vezes não se preocupam nem com o acabamento do castelo. Com o tempo podem mudar a decoração, podem construir mais uma torre, mas sempre a partir do que já existe, e se souberem manter o castelo protegido conseguirão passa-lo adiante perpetuando assim o seu reinado. Ao passo que outros ao chegarem não encontram nada pronto, talvez o chão até esteja sujo, será preciso limpá-lo para em seguida começar a cavar, e cavar, e cavar… Será difícil olhar para o lado, para o seu vizinho, e perceber que ele já está lá na frente, recebendo visitas e dando festas em seu castelo.

Quem começou a construir do zero ao olhar para o lado poderá pensar “eu nunca vou alcança-lo”!

Para construir um castelo de areia é preciso uma ideia, um esboço mínimo do que se quer fazer, algo do tipo, “a frente será em direção as ondas”, ou, “ele terá duas torres”, ou ainda “no meio dele terá um lago”. Essa pequena ideia é o vislumbre de um sonho, o castelo ainda não existe, mas você já o visualiza. A partir daí é colocar a mão na massa, você pode se ajoelhar, enfiar a mão na areia e começar a cavar, você vai se sujar, vai suar. Pode ser que você perceba que sua ideia inicial não foi das melhores, sem problemas, faça os ajustes necessários.

Perseverança e esforço individual são indispensáveis, afinal de contas a ideia foi sua, ainda que você conte com alguma ajuda e que bom quando isso acontece, lembre-se foi você quem vislumbrou o castelo pronto.

É comum que quedas aconteçam, seu castelo pode ruir, isso mesmo, ele pode cair. Mas aqui reside um aprendizado importante, você deve lamentar a queda de seu castelo, mas se você elaborar esse lamento com certa agilidade conseguirá dar continuidade do patamar que ainda restou, ou seja, não precisará começar do zero novamente.

Recolher os cacos, juntar as pedras, voltar a sonhar.

Sim, o castelo de areia tem pontos de contato com a vida e com nossos projetos em vida, obviamente a vida é sempre mais complexa do que qualquer analogia, como alguém um dia já disse “viver não é para amadores”, contudo penso que na vida podemos cultivar a ótica da construção, do projetar, do empreender, sem nunca esquecer que nossas mãos podem dar forma a algo inteiramente novo, não digo perfeito, mas algo que reflita um pouco de cada um de nós.

Rodrigo
Janeiro/2021