É Jerivá

By 30 de abril de 2021 MEUS TEXTOS, MINHA VIDA, REFLEXÃO

Os Sinais de uma Árvore Velha

Já muito tarde eu descobri que Jerivá é uma palmeira nativa da Mata Atlântica, lembro da minha surpresa, lembro quando e onde fiz essa descoberta. Eu fazia o curso superior e no intervalo entre as aulas eu ficava passeando pelo jardim da universidade, pouca gente frequentava aquele lugar, acho que era por isso que eu gostava tanto dali – era um convite ao silêncio e a contemplação. Cada espécie naquele jardim tinha uma pequena placa com o nome popular e o nome científico, assim enquanto eu andava a passos lentos podia ler esses nomes, e para o meu espanto uma palmeira linda, com frutos amarelos e verdes, as cores de nossa bandeira chamava-se Jerivá. Jerivá é uma palmeira, mas é também o nome da rua onde eu passei minha infância, adolescência e juventude, sim, Rua Jerivá Antigo 225, Atual 242. Ali, na Vila Santa Rita em Diadema, região metropolitana de São Paulo.

Comecei a pensar que nada mais adequado para representar a rua onde passei a me entender por gente do que uma árvore. Naquele local eu criei raízes, que em alguns momentos foram raízes superficiais, balancei, percebi a necessidade de aprofundar minhas ramificações até encontrar solo firme. Nesse lugar, na rua Jerivá, foi onde fiz minhas primeiras amizades, foi onde tive minhas primeiras encrencas de rua. Na rua Jerivá eu conheci meus melhores amigos de infância, o Robert, o Henio, o Jeverson, o Ricardinho e outros, muita bagunça, muito futebol, muita risada. Já na minha adolescência, nessa mesma rua, eu conheci outro grande amigo, o Ricardo, que teve uma importância fundamental, com ele eu alcei os primeiros voos na área de Tecnologia, que àquela época conhecida como Informática. Anos mais tarde, nessa mesma rua, na Jerivá, eu conheci minha esposa Débora, com quem tenho construí uma família, com dois filhos lindos, mas foi na rua Jerivá que demos o nosso primeiro beijo.

Ainda hoje, sempre que percorro algum caminho cuja rota permita eu passar pela rua Jerivá é por lá mesmo que que vou. É um exercício de gratidão, lembrar as minhas raízes, de onde saí, por onde andei, como vivi, onde cheguei. Muita coisa aconteceu de lá para cá, muita coisa mesmo, muitos sonhos já se concretizaram e outros ainda serão alcançados. Um desses sonhos está guardado, numa caixinha especial em meu coração, sonho em um dia ter uma casa de campo, com varanda ao redor, com um gramado para andar descalço e com um lindo jardim. No meio desse jardim vou plantar uma Jerivá, vou colocar uma plaquinha com seu nome. Ali, olhando para aquele jardim, vendo a Jerivá, ali o Eterno falará comigo: “Lembra-te de onde você saiu. Lembra-te das tuas raízes. Lembra-te que eu sempre estive contigo”.

Rodrigo
Abril/2021